Sagração da flor
Sagração do tempo
2023-2024
Sagração da flor, sagração do tempo
É uma obra que se constroi no tempo dos acontecimentos de uma performance que se deu em momentos criativos distintos. A ação de recolher e comer flores no sítio-ateliê foi registrada em autorretratos que destacam a boca. Flores comidas, cuspidas, em ato de devoração erótica. Comer-ser a beleza, sacralizar a carnalidade, a matéria. É a boca que tudo come.
Impressas posteriormente em formato de lambes, remetendo à língua, os autorretratos foram aplicados num percurso na região central da cidade do Rio de Janeiro, do Cais do Porto ao aterro do Flamengo. Foram ‘lambidos’ 230 autorretratos em postes, chão, paredes públicas, privadas e institucionais. O projeto foi realizado dentro de uma ação coletiva de artistas visuais cariocas, durante o cortejo “Banquete, oferendas de amor: a viagem”.
Dois meses após o cortejo realizado, a artista refez o percurso, fotografando as interferências do tempo, a ação da chuva, do sol e das pessoas diretamente no material exposto. Algumas fotografias deste registro foram novamente impressas em formato de lambe para a exposição Performa, no Espaço APIS (RJ). A sagração do tempo é uma nova partilha, pedaço rasgado mastigado engolido cuspido pelo avesso e direito. Traz esse testemunho da violência entranhada na pele-corpo da cidade, com os rasgos na boca de uma mulher e suas camadas em contínua descamação. A ação na obra, tocando e sendo tocada, cria uma narrativa própria, arte na rua, da rua, interferência urbana.
Em 2024, os autorretratos dos lambes são transformados em formato editorial impresso, como um jogo de 15 cartas. O projeto participa da Feira Miolos 2024, pela Oficina Analogika.